PRECISO

Enquanto a noite ensaia sua estréia, cuidadosa, a mente, nada cautelosa, saltita em descompassados passos arranhando o piso liso da razão que se dissolve no ar a cada piscar desses olhos já pesados que, a essa altura, bem pouco enxergam.
Passaram, à tarde, nuvens rubras, tensas, grávidas de alarde, reclamando-me postura. Passaram ventos prestes a parir torturas, ventanias arrancando-me a ternura. Pássaros, voos, urdiduras; já pressinto temporais. Nada preciso...
Preciso, urgentemente, de uma brisa leve e quente a limpar a alma, a mente e o rosto e o gosto desse dia. Deitar num chão de nuvens costuradas com estrelas e admirar o sol nascer bem manso no entreabrir desses seus lábios tão macios enquanto, suave, amanhece em minha noite.

PRECISO - Lena Ferreira - nov.13

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