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Mostrando postagens de julho, 2017

mais te sonho

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...mas, não há noite, meu bem, que se acenda sem que o dia, embriagado por dois sóis, traga a brasa ascendente dos teus traços enquanto rimas delírios e quereres ah, que tão prosa me faz este teu vento que me galopa os campos e as colinas e me contorna mais um dos pensamentos bem no relevo que enleva e extasia é dessa fonte que me traz o alimento mas, me deserta na sede entre dois goles quando semeia um verbo indizível no chão de outras promessas já quitadas ah, que tão nossa é a noite, essa, e toda toda e tantas, e tão desritmadas que, pra te ver, e sonhar-te, não mais durmo pois mais te sonho, e melhor, quando acordada - Lena Ferreira -

é para lá que voo

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dizem que o novo verso anda no meio do povo varrendo as ruas, os becos e as esquinas abrindo as bocas e as frestas das cortinas fechando entranhas dos estranhos sinais suturando os cortes consagrados em ais estancando hemorragias, estocando poesias dizem que o novo verso anda onde não anda o eco arrítmico do ego, da cisma, do abalo sísmico   das palmas, das plumas, dos ressentimentos dizem que o novo verso anda entre os movimentos das mãos na lida e dos pés na lama, descalços entre os percalços, dúvidas e tropeços das crianças plantadas na marra pelos campos desertos de sonhos apesar da mínima a idade barrigas vazias de lua cheia dizem que é por lá que o novo verso anda anda e versa enquanto semeia estrelas enquanto espera pela lua crescente no mais, tudo é tão velho, é arremedo dizem, apenas uma roupagem nova para o antigo verso que surgiu mais cedo - dizem que é por lá que o novo verso anda então é para lá que, se

entre o gosto e o espanto

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foi assim, entre o gosto e o espanto que intentei seu cansaço no meu e acolhendo a sua língua arredia convoquei esse encanto no breu: olhos baços num tom de outono duas folhas que caem sem querer e se vão com um vento indisposto sem destino saber, sem querer recolhi esse olhar complacente e lavei na mais pura das águas as três mágoas debaixo da ponte onde a ira quebrou seus dois pés - que o pedaço partido no espaço pouco a pouco, parece, refez - e, outra vez, tentativa e fracasso: num duelo entre espada e punhal os desejos, talvez prematuros, os cansaços passados do tempo e um vento invocado no meio impedindo o compasso final entre o desencanto e desgosto, meu cansaço cansou-se do seu   mas, ainda mastigo as vontades desse olhar que nada prometeu - Lena Ferreira - 

notas

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é certo que uma lonjura nos separa essa, irrestrita, intocável e indefinida  pelos séculos que se arrastam em suspiros incalculáveis pelo tempo despedido - mas, nós, que fomos notas tantas um dia, transporemos si bemóis assim, espero - pudesse, deitava agora os meus apelos nos pelos do compasso mais fremente rompendo as correntes do absurdo num grito mudo que me ecoa bem no centro mas, na impossibilidade evidente, cá, rego as cifras dessa espera miúda de que, de perto, como as notas mais propícias dedilhadas pelas mãos do clã destino ouvir-se-á nossa canção de reencontro - então, seremos música, novamente - - Lena Ferreira - 

menos a saudade

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A noite, com passo apressado, fazia um esforço tremendo para acompanhar os céleres pés do meu compromisso. Luzes piscavam, como fossem sinais de alerta apontando-me a seta - imprudente - e por um segundo senti-me culpada pelo que nem pequei. Peço perdão, mesmo assim. As ruas com seus movimentos, lembravam-me o que é existir lá fora. Há tempos enclausurada em pensamentos, pouco lembrava do que  era tudo aquilo. Em meio ao alvoroço noturno, me dei conta de que o percurso era o mesmo. O mesmo que, por tantas vezes, fizemos. Mãos dadas, sorrindo.  Ah, parecia até que o vento me espionava - e me espiona tempo todo, pressinto... - Porque, naquele exato momento, ele me abraçou como se adivinhando a lágrima que ensaiava cair. Ela veio, porque sim, inevitável, mas ele logo a levou. E deixou-me essa sensação doce. E calma, e serena. Tranquilizando-me quanto à escolha feita de voltar à vida, à luz e à lida. Do que já não é mais um sonho.  Desde então, sigo em frente, respirando bai

é nada

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e a voz é pouca, é mínima distante dos fatos entardecidos sob as folhas de vertigens calmas entre as nuvens de um céu cobalto onde o instante, de tão raro, para e confere o arrepio interno que o esterno controla, aparente, e o externo segue, lentamente, como se, tendendo ao sobressalto, incorresse em crime sem soltura e a voz é pouca, é ínfima distante dos afetos anoitecidos   respingados de sereno e de história de uma trajetória isenta de depois onde o passado a limpo ressuscita e interfere nesse verso estanque e soluçando as rimas que inverno planta no peito do que não foi o verbo preciso e irrestrito que águo da forma mais bonita contendo as torrentes de nós dois ...e a voz é nada - Lena Ferreira - 

quase conhecida

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as vezes que se vestia de vento, varava as ruas várias avarandadas levantando as velhas folhas avermelhadas que voavam como voam os pássaros aflitos e assim as folhas iam, desesperadas iam assim, a contragosto, sem lar, destino parar em não sei onde, mas sei porquê capricho pouco, sacudia a cabeleira farta dispersando o pensamento pequeno e louco tão vento, e tão incauta e desarmada espalhando a poeira de outros desditos e as folhas, assentadas sei lá eu onde observavam, quietinhas, o desatino das vezes que ia vestida de vento em vento mas, as vezes que se vestia de terna brisa, refazia-se em promessas ensoladas e acenava para folhas ainda aturdidas que assim permaneciam, feito em cautela e, por ter vestidos vários - incluindo a chuva - era quase conhecida quando ia vestida mas, passou em brancas nuvens quando despida e, despida, despediu-se do ser inconstante - Lena Ferreira -