NO QUINTAL
Desde muito pequenina que esta mente, campo fértil, pegou delírio. Deitada na grama estreita que quarava roupas no fundo do quintal, contava as inúmeras vezes que as nuvens mudavam de forma e ficava por incontáveis minutos, distraída e só, imaginando danças de núpcias, funerais, vida e festas, folguedos e muito mais... De quando em quando, o vento mudava o enredo e lá ia eu para outro delírio. E, só. Voava em pensamento com as pipas coloridas que salpicando o céu de dezembro, lambia-o com suas rabiolas-bailarinas e quando eram ‘cortadas’ após um duelo coreográfico, meu pensamento ia encontrá-las no suposto lugar da queda, acarinhando as ‘feridas’. Mas logo seguia em outra viagem. Olhava para o jardim ralo que, cercado por um canavial, assustava muita gente. Para mim, nunca foi um jardim somente. Era o mundo inteiro que eu conhecia e era imenso e me pertencia. As árvores eram minhas irmãs e confidentes. Ouviam pacientes, segredos e medos infantes e respondiam sempre solidá