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Mostrando postagens de abril, 2014

TUAS ÁGUAS

Acomodas tempestades e, no teu peito, há um vão tenso de onde escorrem vãs palavras em lavas que inundam o quarto e a sala e não calam o verbo que eu não quis ouvir. Fala de nós ao vento que passa ao longe enquanto chamo a brisa para o nosso lado. Ela vem mas logo parte e, em desassossego, rego o canto de te amar. Não é doce a voz que sai de mim; é trêmula, carregada de um tom acovardado – refreio -. Não soubeste precisar nada além desta imagem impregnada por detrás dos olhos negros, pequeninos, moles de tanto te ver e ver - tão perto e tão distante - . Teu peito é um não imenso que me incita tempestades encharcando o canto esquerdo com mais m'águas... TUAS ÁGUAS - Lena Ferreira -

SOL-TE

E nas horas calmas, enquanto sol-te, constelas, delicado, o meu céu... SOL-TE - Lena Ferreira - abr.14

DESFEITA

Feita de líquido e frases tão cruas de leitos e mares em sono frágil e invigilante Desfila, derramando fases por ruas em vãos similares ao seu caminhar inconstante Desfeita do peso, vai nua das vezes que, cega, flutua - até que, suando, evapora - Sublimada, em nuvem, madruga num céu todo, todo em rugas - coberta e desperta então, chora - DESFEITA – Lena Ferreira – abr.14

*DOS RIOS QUE ME CORTAM

Dos rios que me cortam por dentro e navegam silentes um a um pelas veias sei de cada nascente... E quando esbarram nas margens povoando o fundo com lembranças tão rasas... ...chovo calada Assim, avoluma-se o curso dos enganos resistentes ao vento Assim, recorrente é a saga; cega na correnteza sigo; margeando incertezas... ...deságuo lamentos DOS RIOS QUE ME CORTAM – Lena Ferreira – abr.14 *mote: rios e correntezas - proposto por Andréa Iunes na Oficina NOP

INESPERADO

Nunca houvera falado de amor como deveria...Não da forma que se espera. Nunca houvera enviado flores, deixado bilhetes sobre o travesseiro, levado café na beira da cama. Nunca dissera " eu te amo" como se espera, em sopro ou gemido no pé do ouvido. Nunca lera um poema com voz sustenido...Mas, seu olhar... Ah, seu olhar, ao mergulhar nos olhos dela, quem diria...Era a declaração de amor mais sincera. Era a forma mais bela de se compor poesia. INESPERADO – Lena Ferreira – abr.14

DO QUE PODERIA TER SIDO

a música que a madrugada canta remete-me a um sublime enlevo e a mente vaga nas lembranças do que poderia ter sido enquanto a cidade dorme, desenho no ar uma cena perfeita onde, eleita, morava em seu peito e, satisfeito, fazia-me promessas mas, sem licença, um vento suspeito desfaz os detalhes... recorro ao papel e a pena que me socorrem prontamente; a alma escapa pelas pontas dos dedos e na vaga de cada verso, acorda cada fiapo de esperança adormecida esquecidos do tempo que morre, nascem poemas falando de nós - do que poderia ter sido - DO QUE PODERIA TER SIDO - Lena Ferreira - abr.14

CONCERTO

Deu pra escutar o som das cores e transformava cada nota que sentia em melodia transbordante, oceano que desaguava pelos olhos que ouviam a sinfonia colorindo o desacerto ao o som das ondas que aplaudiam esse concerto CONCERTO - Lena Ferreira - 

DOMA

É na solidão, quase sempre sombria, Que intento a doma das feras do centro Quem vê só por fora, não sabe que dentro Há uma avalanche clamando alforria E essa saga segue, à noite e de dia Confesso que, às vezes, eu mesma não aguento: Num duelo ingrato, moroso, sangrento Esgrimam sorrisos, tristeza, euforia... Nessa solidão, um silêncio aparente Segue cutucando o entorno, estridente, Como a incitar, nessa espera, o açoite Essas feras, todas, são tão resistentes Mesmo assim, insisto na doma, valente; Não quero, pro dia, o escuro da noite...   DOMA - Lena Ferreira - 

CONSUMAÇÃO

Um toque na pele amanhecida Acorda as esquecidas emoções, Vitima o peito em doidas pulsações, Desperta sensações adormecidas. Então, duas almas vibram, aquecidas Pelo calor que chama os corações. Corpos dançando valsas de explosões Espasmam as frases mais ensandecidas. Rumando ao ápice, num êxtase louco, Descobrem-se, e muito ainda é pouco Para exaltar o fremente desejo. Dispensam carícias que acalmam a pele E exploram o gesto que a paixão impele: Consomem-se num incendiário beijo. CONSUMAÇÃO - Lena Ferreira - (rev.) abr.14

QUADRO

O quadro pendurado na parede lembra-me a sede( a saliva, a língua à míngua) de um ser que busca, a qualquer custo, a liberdade mas, tanto alarde, em cada passo um novo susto. Pintados, passarinhos, borboletas, folhas, rio, chuva, vento todos soltos na moldura, se movimentam e o pensamento preso fora da clausura cada vez mais atormenta... Ah, quem dera ser um ser só de ternura e com brandura estenderia as mãos, os dedos e, delicada, abriria a sala-cela e essa aquarela saltaria para a vida. Mas não. Permanecerão, sei lá por quanto tempo, decorando a parede, fomentando a seca e a sede torturando o pensamento, aguardarão o movimento, a atitude para que o quadro, perdurado, finalmente mude. QUADRO – Lena Ferreira – abr.14

REVELA-TE

Revela-te desmonta a armadura que já não esconde a fragilidade esqueça o escudo, as flechas e a mania da fuga diante das adversidades Revela-te desmonta o sorriso que já não esconde as marés do centro esqueça as poças, partes da agonia da rota errada de um passo por dentro Revela-te demonstra o susto e o medo sem medo do que virá em resposta pois digo o que jamais fora segredo: quanto mais te escondes, mais te mostras. REVELA-TE – Lena Ferreira – abr.14

ABRIL-ME

Abriu-me os olhos que iam cansados fechados para o que de fato importa mostrando que o tempo traz resposta para as perguntas mofas do passado Abriu-me a boca para um amplo riso - fechada em pausa grave, provisória - mostrando que esta vida, transitória, não é um inferno nem é um paraíso Abriu-me as portas e também janelas fechadas por um violento vento - mostrando o sol que pode ser unguento no tratamento de certas sequelas Abriu-me o verbo, o verso e a pena como resposta, respirou mais leve e num sussurro, decretou a greve da pausa grave e abril-me, serena  ABRIL-ME - Lena Ferreira - abr.14