Postagens

Mostrando postagens de dezembro, 2013

NAS ÁGUAS

Nas águas tranquilas que cobrem esse solo isolo a tristeza que pesa nos ombros em dores prováveis, possíveis assombros que escondem o sorriso que sempre foi seu Nas águas tão calmas, mergulho meu colo consolo a verve que andava arredia; pedinte de um vento, brisa ou poesia espera voltar o que sempre foi seu Nas águas serenas, meus versos, imolo tentando acalmar a alma em estado bruto para que, tranquila, num tom resoluto retorne ao caminho que sempre foi seu NAS ÁGUAS - Lena Ferreira -

CORTE

Debruçada na beirada das lembranças chorosa contempla a imagem do tempo que corre, indiferente ao seu lamento, ...e não para Eram tantas, lembra bem, e por horas brindavam a vida com xícaras de brisa morna e gargalhavam com as cócegas do vento Assistiam, reflexivas, ao degradê da tarde e à noitinha, respiravam estrelas e vagalumes brincavam de fazer o dia, a vida e a sorte Debruçada na beirada das lembranças arqueou-se pelo peso da saudade daquelas que foram levadas por um corte ...que não sara CORTE - Lena Ferreira - dez.13

DECANTAÇÃO

Escorre desesperada do leito, caminha aflita e forma um denso rio; a água amarga que vaza do peito desliza da fonte estreita em fio... Desloca-se da fonte tão pequena, e, diminuindo, decanta das águas os desenganos, lamentos e penas, e, desfilando, destila o que amarga Na trajetória, nem pouca, nem tanta, modifica seu gosto enquanto escorre tornando doce a água que envenena Alaga o peito e destrava a garganta afogando a mágoa que, enfim, morre e a fonte estreita, se alarga, serena DECANTAÇÃO - Lena Ferreira – out.13

SUAVE

Senti a dor de cada letra nua expondo a alma; de tristeza, morta vestida de verdade, dor tão crua daquela fina que, por pouco, corta Senti  as lágrimas rolando - as duas - batendo desde cedo à tua porta quisera, mesmo, transmutar-me e  lua alteraria as bases da comporta E a noite, silenciosa como a brisa, acalmaria a dor que aterroriza vestindo-te com flores e sorrisos Perfumaria-te com puro nardo suave, como as nuvens que resguardo para curar-me, sempre que preciso SUAVE  - Lena Ferreira –

PRETENSÃO

Ah, Mário, se por aqui ainda andasses com pés de passarinho e letras aladas quintaniando o teu silêncio, confirmarias o alvo certo do teu aforismo sobre o tempo que com passos assustadoramente fungíveis engole fatos, fotos, ventos, velas, elementos vulneráveis sentimentos; bem dissestes  tanto tempo e o dito permanece imutável a não ser pelo próprio espaço que, caduco não consegue acompanhar a avalanche de informações que chegam de toda parte e reparte a mente em tantos pedaços sem que, cada parte partida, absorva verdadeiramente, o que há em cada fato Os tempos são outros, Mário, são sim; adornam a distância com  a própria distância entornam à inconstância mais inconstância em toques progressivamente superficiais porém tranquilizo-te, poeta:  como tu, deitei-me nas citações dos outros sobre mim e assim, sereníssima, tranquila, calma e equilibrada andarei sob essas impressões atemporais sob a promessa de não levar para o túmulo o acúmulo do tudo que posso fazer no agora PRETENSÃO - L

CÍCLICA

Há vezes, abro-me ao sol que cirandeia pelo oceano suspenso esquecida das noites despertas entre as nuvens estéreis A luminescência do dia acelera o meu pensamento que salta, saltita e orbita pela mente em euforia de cores vibrantes sorrisos, canções e canções em ondas e ondas “Tenho fases...” Há vezes, fecho-me, aberta aos cíclicos pensares segundos e segundos em variantes variáveis sem resumos e sem cálculos; solução salobra escorre pela face desbotada e sem ser sol trovejo, abalando os alicerces da alma inquieta “...como a lua.” Reveses...E o ciclo das marés avoluma a angústia de um vazio que nada é capaz de preencher O sorriso salgado afasta as estrelas; sei bem mas o céu é imenso e essas luas madrugadas trazendo a brisa da inconstância me apavoram “Perdição da minha vida!” Mas há de vir um vento, um dia ou noite qualquer, que arraste essa instabilidade a um precipício assassinando, em mim, a inércia agigantada diante da poeira soprada pela rua escura e fria devoradora da calma que

RE-CREIO

Dentro de um poema, dormem outros poemas aguardando serem despertos. Leio e releio. Recrio, re-creio; acordamos... RE-CREIO - Lena Ferreira -

INTERMITENTES

Certas verdades, intermitentes, bordadas por gazes finas, transpassadas perpassando as fases de uma vida em cela revelam o vício dos vínculos convenientes Ingenuamente, trazem o fim para o início fundam precipícios nos verbos contritos acordando atritos no poro indisposto; desgosto em arrepios, anunciam conflitos Certas verdades, intermitentes, atadas por nós mudos, surdos e cegos confrontam o ego de um mundo absurdo e deixam escapar o que ia na palma... (...diante de tantas mentiras calmas) INTERMITENTES – Lena Ferreira – dez.13

DE PASSAGEM

No curso da longa estrada vou traçando meu destino cansativa é a caminhada muitas vezes, vou sozinho desbravando esse caminho sem escudo, sem espada atravesso as correntezas carrego poucas certezas pra bagagem ser mais leve na passagem que é breve vou bebendo da beleza que a paisagem me oferece tenho o sol que me aquece tenho a chuva no meu rosto e a brisa, prima-irmã do vento revigora esses meus passos e amenizando o cansaço tranquiliza o pensamento do muito que acontece porque os olhos não esquecem do que corre pelo mundo coração em disparada; pouca coisa sendo nada muita coisa sendo tudo ...no curso da longa estrada vou seguindo, quase mudo DE PASSAGEM - Lena Ferreira - dez.13

ZELO

E enfim, o silêncio dos dias solitários cedeu lugar ao alvoroço pela volta enfim, a ventania transformou-se em brisa mole; felicidade é pra se beber de gole em gole Olhos sorrindo tateando tudo em volta lábios abrasados, se abraçando e a cada toque, uma porta era entreaberta; se zelo existe, haverá redescobertas Caminhando, calma, a mesma lua, leve suspirava e, talvez, por inveja breve, escondeu-se nas nuvens raras dessa noite E nós, sob juras secretas, em suavidades cobertos de pele e de intimidades inauguramos estrelas onde o céu fez greve ZELO – Lena Ferreira –

IMENSURÁVEL

Já era tarde e o meu silêncio, a companhia além da lua, grávida de vãs promessas bisbilhotavam o quarto inteiro à procura de algum resquício do passado já dormente Mas estampado estava, há muito, em cada canto em cada foto e nas ranhuras das paredes e a velha rede balançava com as lembranças de um presente, vivo e intenso, entre sóis Então, sozinhos, eu, a lua e esse silêncio dialogamos; entrelinhas, fio a fio: não é um vazio, é só um poço imensurável dessa saudade de quem parte e quer ficar IMENSURÁVEL - Lena Ferreira -

PREFIXO

Trago de berço o prefixo de um céu líquido E a imensurável inconstância dessas ondas sempre me sonda e me remete a vazantes; gotas, poças, lagos, rios, mares, oceanos... Não é um plano arquitetado; é o efeito do que no peito roça e arranha em agonia Nascidas frias, rimas batem nos rochedos e morrem cedo, amênicas de maresia Verso com limo, pedras, algas verde-musgo e no quê profundo do raso mundo que alcanço, avanço e a calmaria, com um beijo, me azuleja Que assim seja; apaziguo-me com o vento que, neste momento, sopra leve, quase brisa e me avisa, num vaporoso e eterno abraço Que esse cansaço que, às vezes, me abate é pelo embate inglório, por noites e dias entre as suadas ventanias e as águas de mim PREFIXO – Lena Ferreira – dez.13

TANGENDO NUVENS

Imagem
*** Enquanto um vento-menino, brandindo o seu chicote de plumas, suave, brinca de tanger as nuvens esparsas de um céu azulejado, permito-me um observar quase sensato sobre as imagens diversas que se me apresentam em impacto. Figuras das mais várias formas se formam em poucos instantes e, quase no mesmo instante, outra forma e outra vez. Talvez só para lembrar que, da mesma forma que as nuvens, na vida tudo muda, tudo é transformação e, muitas vezes, independe de mim...de ti ou de voz... Então, re-corro ao maço de folha em branco e com o pensar franco, abraço essa inspiração como sendo uma tábua de  salvação. E apontando impressões, escrevo, rabisco e escrevo de novo o que devo e não devo, o que penso, o que sinto, o que invento e o extinto; fotografo emoções. Sensações que, percorrendo as veias, geram memórias cheias, esvaziando a razão. Onde a solução? Onde me fiz refém? Ah, coração...Aquieta-te no peito e daremos um jeito nessa nossa questão: ou freamos o vent

SACODE

Não sem aviso, veio forte e cego e laminado, arrancou-me telhas, tirando o chão do eu, do id e o ego virou poeira que não se espelha Temi, tremendo - isso eu não nego - perder o todo que se assemelha à calma, à paz e tudo o que carrego dentro do peito em ínfima centelha - o céu trincado em grandes estrias lembravam as rugas dos passados dias e as trovoadas, gritos de improviso - Não sem aviso, sacudiu-me o vento; tombou certezas do antigo tempo e fez-me chuva no instante preciso SACODE - Lena Ferreira – dez.13

SONHO

Enquanto a noite anda, vagarosa, de braços dados com uma leve brisa o pensamento dorme e concretiza a viagem mais perfeita e esplendorosa É quando, em veste fina e vaporosa, compromissadas almas, sintonizam os fios de promessa e minimizam a espera, demorada mas zelosa Enquanto a noite, com seus passos lentos, caminha, almas com o peso do vento, flutuam e partem pr'esse encontro breve Marcado com suas almas prometidas - quando acordadas, vagam adormecidas e só despertam quando dormem leves - SONHO – Lena Ferreira – dez.13

SOU-TE

E quando vens, me abraças com palavras mansas, ternas como a brisa levemente salmourada, quase, quase maresia- essa mesma que me beija quando em mares, poesia. - Tanto orgulho de ser seu mar, assim, idêntico em conflito...Marés tantas, ond as fartas; falta-me o ar, confesso, muitas vezes, mas não resisto a esse amar intenso e insano, tão inteiro e tão distinto... Há vezes, penso tanto, penso muito...Um pensar inconcluso, tão confuso que nem sei se um de nós é o infinito ou se é somente pelo atrito da areia entre os dedos que a razão, que julgo vasta, escasseia e, pelos vãos, vão os segredos... Mas quando vens entre sussurros tão macios e alarmas meus verões, cobrindo-me com suados arrepios, mudando o fuso, o eixo e o mundo, acordando outras estações já dormentes no meu peito, que livres da clausura, incitam variadas explosões, deliro! Ah...Não sou a última nem a primeira, sei bem, mas te digo, despida de pudores e vestida de ternura: dia e noite, noite e dia, so

AMOR PRÓPRIO

Quando digo que me amo não é por capricho ou vaidade Quando digo que me amo não é por falta de humildade Quando digo que me amo é por compreender essa verdade: Se eu, que sou eu, - me conheço -, não me der o amor que mereço não saberei dar amor a ninguém E que amor darei a quem desconheço se não souber amar a quem conheço? responda-me essa questão, meu bem AMOR PRÓPRIO - Lena Ferreira - dez.13

DENSOS

Há quem diga que o que distancia nos separa mas não acredito pois com o toque de uma poesia alma, mente e corpo teus, eu sinto Há quem diga que essa lonjura marmoriza o sentimento a dois leio os versos, todos de ternura; e a distância, deixo pra depois Entre nós, há um largo oceano e profundo, isento de enganos, em pensares densos de desejos Suas ondas, calorosas, quentes, vindo à tona, todas displicentes, dão-te, longe, imaginados beijos DENSOS - Lena Ferreira – nov.13