DESEMBARQUE
Das viagens feitas com um só destino, despachei certas bagagens sem descuido. O conteúdo fora conferido atentamente ordem a ordem. Não há nada nos Achados & Perdidos. Tudo o que está contido possui autonomia de voo. Trago o mesmo sorriso guardado no bolso dos lábios. Ainda se abre facilmente ao mínimo aceno das delicadezas mornas e improvisadas. O vento é outro. É outra a brisa. O mar, suspenso. Não há estrelas, é dia. Lembranças chegam como um bálsamo aerado entre sussurros. Rasgam o bolso em risos de canto a canto. E debulham as pétalas da alma arredia. E alisam a calma em conquista suave. Acaricio a lista das permanências e, respirando mais leve, flutuo. Pouso sob um céu reconhecido que me abraça e me faz blues. Sopros sibilantes trazem para perto, vozes e vozes equidistantes. Desembarco. Entre os diálogos tranquilos e sem pressa. Saudade é bicho que se mata devagar. DESEMBARQUE - Lena Ferreira - mai.15