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Mostrando postagens de agosto, 2020

de verbena e lírio

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*** não há portanto no instante resistente nem mais saudade de torpor insustentável e os defeitos exclamados pelos tantos são devaneios de Pandora aborrecida não há mais vento, ventania ou tempestade nem mais marés em tantos cantos insistentes por entre as veias, corre um rio fresco e manso e uma brisa morna embala os pensamentos não há mais grito no enquanto tão silente nem mais sussurro acordando a lua avulsa das mãos exala um misto de verbena e lírio e os pés, por hora, tocam levemente o chão - Lena Ferreira - 

luzeiro

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    ...     em onda rasa ou profunda lança o anzol, um luzeiro pescando as ilusões do mundo   - barquinho em mar agitado remando contra a maré -   balaio cheio de ventos é isca para vazantes antídoto à anestesia alívio à agonia   um verso preso à garganta clamando pela alforria do verbo que não fecundo se atira na maresia e adere aos pelos da alma   ah, pescador de ilusões, comprova que vale a pena: lança o anzol bem no fundo, da calma que vai pequena - Lena Ferreira -

por descuido ou sorte

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... Não, não. Meu mundinho não é cor-de-rosa, não. Muitas vezes me vejo cercada por paredes desbotadas, cinzentas, escuras. Nuvens carregadas estacionam sobre a minha cabeça como deve ter estacionado algum dia na sua também. Mas, com o tempo, a gente aprende que não adianta lamentar pela cor infeliz das paredes ou pela textura enrugada do céu esquecendo que temos janelas, prontas a serem abertas com paisagens mais interessantes a nos oferecer. Não, não faço o tipo 'comercial de margarina', não. Mas, com o tempo, a gente aprende que chorar pitangas não nos leva a lugar nenhum e que nossos problemas são só nossos; não temos o direito de despejá-los em ninguém. Não, não. Não tenho a solução para os meus problemas. Ainda não. Mas, com o tempo, a gente aprende que, seguindo em frente, observando cada passo e cada passante, a gente entende que os nossos problemas não são tão grandes e insolúveis como imaginamos ser. E aprende a lidar com o que não pode ser

às águas das horas

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*** desse agora que flutua sobre nós tudo sei e pouco faço: mergulho no afluente de um regato e entrego, às águas das horas, as demoras e os cansaços os rechaços e os naufrágios os presságios e os preceitos - senhoras imparcialíssimas nesse pleito hão de convocar nascente e foz -  emerjo e, percorrendo as margens, desaguo pelo que me assevera  das horas, as águas, senhoras sinceras me dizem, amenas: desaguas por motivo irrelevante  da muda de esperas plantada no peito hão de florir as alegrias mais serenas; precisas paciência pr’esse instante - Lena Ferreira  -

aguardo

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*** guardo no meu peito com amor e zelo extremo sentido e voz da tua última palavra: ensolarada tão bem dita e bendita e aguardo como aguardo uma promessa prestes a ser cumprida mas, toda noite como brisa em sussurro ouço mansinho: ainda não, meu amor, ainda não...  - Lena Ferreira -

como(a)vida

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 *** quando Cecília canta os motivos do seu vento atento às notas familiares e aos detalhes do não-dito sereno, o não-lamento à sua sina abraça os passos do acaso e dá sequência à sua lida cada nota é movimento como o vento que escuto como(a)vida - Lena Ferreira -