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Mostrando postagens de dezembro, 2014

SÓ POR HOJE

Recolha, só por hoje, as aflições que te agoniam coloque-as num canto sem água, comida ou vento Estenda, então, teus braços a quem te pede um abraço e o nó que está no peito, logo  se torna um laço Visita o teu espelho e ensaia um  sorriso não pense ser conselho é beirada de egoísmo - também dele preciso, sem sentimentalismo, pra me sentir feliz, meu bem - Recolha, só por hoje; por hoje, amanhã e depois e depois e depois também SÓ POR HOJE - Lena Ferreira - dez.14

GRATIDÃO

Nem todo julgamento que condena É feito por juiz ou júri honesto Então, não se apoquente; vai pequena, E leva esse sorriso em protesto E a sensação de ter valido a pena Cada palavra e cada um dos gestos - como o frescor de uma  brisa amena, tão boa que compensará o resto - E assim, tranquila, abrace o novo ano Sem juras nem promessas, só um plano: Por tudo o que vier ter gratidão Ciente do que o que nos acontece Tem um motivo que se desconhece E traz consigo sempre uma lição GRATIDÃO  - Lena Ferreira - dez.14

AMPULHETA

Qual um punhado de farelo de centeio o tempo escorre fino pelos vãos dos dedos e não há como desvendarmos o segredo - se existisse -, para colocar-lhe um freio O vento sopra mesmo e, sem nenhum receio, espalha o pó dos grãos do tempo e os seus medos são semeados junto aos enganos ledos em solo vasto e produtivo - e alheios à essa trama, ao desperdício, aos desenganos, andamos todos , insensíveis, sub-humanos tentando refrear a areia da ampulheta... ...para ganhar grãozinhos dessas horas úteis depois gastá-las com assuntos bobos, fúteis enquanto, o que de fato importa, obsoleta - AMPULHETA - Lena Ferreira - dez.14

NO CENTRO COMERCIAL

Venho planejando, sem sucesso, um dia poder antecipar as compras de natal em, pelo menos, três meses. Sim, meu sonho de consumo! É que toda essa correria para os festejos de fim de ano sempre me afligiram. Lojas repletas, alvoroço, empurra-empurra, gritarias, dúvidas sobre o que comprar para cada um e o cuidado de não me esquecer de ninguém.  Passava sempre a  responsabilidade para terceiros, quartos, quintos. Qualquer um, desde que não fosse eu a  enfrentar a barbárie da comercialização pontual. Este ano, apesar do mesmo tumulto, das mesmas situações, resolvi encarar todo o processo com boa vontade e disposição. Saí de casa cedo e sozinha, sem hora pra voltar e pude observar  em cada rosto a mesma ansiedade que carregava comigo. E como me fez bem saber que não estava sozinha em meio aos conflitos sobre o que comprar, se vou acertar na escolha, se o preço é justo, se, se, se...  Mas sempre se tira algo de proveitoso em qualquer situação, basta treinar os olhos de ver, não é?  Pois

CONVITE

Agende isso: a vida lhe convida para ser viço CONVITE - Lena Ferreira - 

BORDADO

Sob o olhar de uma lua adversa tecemos um bordado com nova postura com fios finos de cores várias, diversas e alinhavamos novos sonhos com ternura Com um terno beijo, entre uma e outra conversa, reafirmamos a antiga e eterna  jura enquanto a noite, sem  sinalizar sua pressa, recebe a madrugada, mansa, que murmura Suas canções suaves, doces, tão macias em notas calmas, de perfeita harmonia, sopradas por um céu todinho estrelado Também sem pressa, acordamos mais um dia finalizando, ponto a ponto, a poesia que bem combina com os detalhes do bordado BORDADO - Lena Ferreira  - dez.14

ALÉM DO HORIZONTE

Amanhecer  vendo o  calmo  semblante e esse  seu sorriso espontâneo e franco me alegria, me faz confiante e me reanima pra enfrentar o tranco E esse compasso, bonito, sonante e tão cuidadoso que imprime na fala é como um mantra, é tão contagiante que a passarada, pra ouvir, se cala Permita o universo, que conspira - para quem labuta, transpira - inspira conserve sua vida por bom tempo E um pouco mais e mais  porque é preciso espalhar  a luz do seu  franco  sorriso, além desse  horizonte que contemplo ALÉM DO HORIZONTE  - Lena Ferreira -

DE NOVO

Falta bem pouco para que o ano termine e com essa 'deixa' do calendário, as promessas logo se assanham: parar de fumar, perdoar um desafeto, retomar a dieta, fazer mais exercícios, menos tempo nas redes sociais, sair mais, falar menos, ouvir mais, se estressar menos, dar, doar e doar-se  mais... E vão se acumulando, engordando a fila, infinitas e infinitas promessas sob a jura de que serão cumpridas no ano que vem. Promessas protocolares que aos milhares sabemos que não serão pagas a curto prazo. Nem a longo, pensando bem. É no passo a passo que a coisa acontece e uma, sem querer, vai puxando a outra e quando menos percebemos, deixamos de ser como não queríamos para sermos os mesmos, mas diferentes, melhores para nós e, consequentemente, para os outros. Falta bem pouco para 2014 ir embora. Pouquíssimo mesmo. Mas, não precisamos deixar que ele se vá levando essa impressão de nós; meros espectadores, esperando que promessas, como num passe de mágica, resolva nossas questões. S

VILLE BOLOGNA (à Ana Amélia)

Parti logo depois de ter partido sem ao menos ter podido deitar o meu olhar no teu olhar Tão puro, tão negro e tão limpo tão lindo e...tão lindo, lindo luzindo mais do que o luar Por ele, sim, quisera ter sido engolido Parti partido por não ter podido mergulhar nessa negritude pura e linda e limpa e pura indo, indo, indo, indo, indo, indo... - nos teus olhos de oceano naufragaria antes mesmo de zarpar - VILLE BOLOGNA (à Ana Amélia) - Lena Ferreira - dez.14

NA SERRA

Daqui do alto tudo embaixo se apequena corpo e alma se asserenam e a visão se torna clara Daqui do alto contemplo a paisagem amena nada em volta me condena e o meu coração dispara Daqui do alto tudo visto é poesia tudo é troca e a energia recebida é joia rara NA SERRA - Lena Ferreira - dez.14 *

SINAIS

Era tarde. Horas altas. Após considerar as tantas faltas, abriu a porta gradeada que dava para a varanda e com passos decididos, cruzou o curto espaço que a separava do portão de ferro, preso ao muro já sem reboco, prestes a cair. Firme, empurrou a tramela e alcançou a rua comprida e escura. Consigo, levava somente a roupa do corpo e uma breve sensação de liberdade que há muito não experimentava.  Deixou a chave pendurada na porta, por dentro. A mala, desfeita, jogada aos pés da cama e, encostada à mesa do canto da sala, uma história incompleta a qual decidira não escrever mais. Respirou fundo e seguiu em frente sem olhar para trás. A cada passo dado, rememorava os dias, os meses e os anos entre planos desperdiçados e desenganos com os quais, consciente, permitia, pouco a pouco, se anular.  Uma única lágrima ensaiou alisar o seu rosto magro por todo desgosto passado. Mas, passou e porque sobrevivera até ali, engoliu. Não seria a vez primeira. Mas, a última, jurara.   Com os pés pe
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* meu versejar, entenda, não é diário de adolescente, moça, que despeja tristezas, frustrações e o que deseja e, longe de ser extraordinário, é verso que a mente fértil cria; após observar certos semblantes invento alguns enredos relevantes que, tola, penso eu ser poesia porém, não pense que, por isso, minto; enquanto escrevo, é vivo o que sinto desde o início até a assinatura meu versejar é imaginativo e mesmo dispensando qualquer crivo aceito de bom grado o da loucura - Lena Ferreira -

AUSCULTA

Quando te pressinto auscultando o esquerdo  espaço, já não mais me  disfarço; visto o meu melhor sorriso e, de improviso, lanço mão de infantes gestos como se fosse um maestro em testes de iniciação Tonta em emoção,  revisto o antigo álbum de discos e, sem temer maiores riscos, escolho o que mais aprecias Em sintonia, escuto o sopro das mesmíssimas cifras - as que nos decifram -, nos teus lábios e, tão de perto... ...que aperto os meus, enquanto idealizo o nosso beijo tamanho é o desejo de  ver-me envolta nos teus braços AUSCULTA  - Lena Ferreira – dez.14

dádiva

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dai o pão de cada dia e a poesia que alimenta dai o sol que acorda o dia dai a fé que nos sustenta dai a força e a coragem para seguir na jornada que seguir, pouca bagagem, é ser livre na estrada dai a gota do sereno dai o viço dos Teus olhos dai amor em peito pleno dai Teu viço nos meus olhos dai, à vida, a nova vida dai, à morte, a nova morte dai certeza à nova lida dai firmeza à nova sorte dai o pão de cada dia dai, à nossa poesia...   - Lena Ferreira - 

HASTE

à Celia Domingos -  E por ser feita de verdades conseguiu sair inteira de onde  brotavam tempestades e não foi a vez primeira Onde a metade da vontade rendeu a vida, carcereira, ventou com graça e suavidades e ternuras - tão brejeira - Envergando as adversidades quebrantou a seta certeira que tentava ferir a felicidade de quem não possui fronteira HASTE - Lena Ferreira - 

ASPIRANTE

Sentou-se com os cílios cerrados para enxergar bem por dentro tudo que corria por fora E embora a pensassem dormindo acordava assim o seu centro Sentou-se com sua alma de andanças tão natural em leveza - mas que o caos diário agita -  Assim, sentiu bem no meio da palma o seu frescor e a pureza que a luz adentro  possibilita - sentou-se esperança e, aspirando toda a calma, levantou-se criança - ASPIRANTE - Lena Ferreira – dez.14

OUTROS TEMPOS

Houve um tempo em que uns precipícios convidando-me a um cego salto, seduziam-me (e eu, um ser incauto, me lançava num  fim sem princípios) Houve um tempo também em que uns abismos atraentes com os seus tantos vãos acenavam-me (e eu, poupando os nãos, me entregava qual no romantismo) Entre um tempo e outro, chuva forte alagou estes olhos  - por sorte, clareou-os e enxergar já consigo - Outros tempos, é certo, virão mas já posso contar com a visão de que em mim é que mora o inimigo OUTROS TEMPOS - Lena Ferreira - dez.14 *

CLICHÊ

Desconheço a receita de amar a dose certa; colherada, gota, litros mas nunca fui de homeopatias Desobedeço prescrições desconsidero possíveis contraindicações Sei do seu peso; leve e com sua leveza, cabe até no descabido e, onde encontra brecha, faz seu abrigo Não sei ao certo se ou o quanto sou amada esta é uma dúvida que não me arrasta - o simples fato de sentir que estou amando  é o que, verdadeiramente, me basta - CLICHÊ - Lena Ferreira - dez.14

ELEITOS

Líquidas, as canções da madrugada deslizam perenes pelo escuro do quarto e, com seus sussurros ternos, muitos, vários, acariciam levemente cada canto oculto Acordam as lembranças já dormentes conversam com os poros, peles e pelos e, despertando os instintos verdadeiros, desatam os nós dos sóis; juntos, e sós E, enluarando-os, espraiam pela cama a chama que, nos dois peitos, andava fria - e, apagando os passinhos dos ponteiros, elegem os primeiros nessa nova sinfonia -  ELEITOS - Lena Ferreira - dez.14

VIGÍLIA

Por quanto tempo mais, eu me pergunto, cultivaremos esse absurdo hiato esse silêncio indiscreto, essa distância segura que mais aproxima do que nos afasta Por quanto tempo mais? Penso que basta... Há tanta espera daquelas frases benditas e nós permanecemos nesse bobo impasse: se nada lhe digo, nada, nada me fala Por quanto tempo ainda em solo impróprio se apropriará do meu melhor verbo? Talvez me canse, talvez se canse talvez o meu alcance seja limitado Tão distintos, sim. Tão mais profuso e tão diverso; rimas, eufemismo, dicionário eu, de tão rasa e confusa, me policio temendo esbarrar nos seus cristais Então, seguirei minha sina, secretamente catarseando hipérboles em versos vagos e, tropeçando em certos verbos brancos, vigiarei a semente, silente e discreta - aguardando o instante em que a casca se rompa   e de lá verdejem falas macias e abertas - VIGÍLIA - Lena Ferreira - dez.14

DO QUE DISTA

Do parto até o nascimento há chegadas e partidas há vãos estacionamentos há acenos sem despedidas Há tentativas e fracassos há silêncios e fala excessiva de  braços querendo abraços mas, do orgulho, não se privam Há chuvas e tempestades há terremotos, poças d’água há céu limpo, em claridades enxugando a gota-mágoa Há caminhos e descaminhos há frutas, flores e folhas há cheiros, gostos, espinhos há dúvidas, certeza, escolhas   Há sombra para o descanso há escaldantes desertos há recuo e passos em avanço há sábios, ingênuos e espertos Há brisa e há forte vento há guerras e também há lutas há paz - a que nasce de dentro e não se conquista à força bruta - Há tantas palavras inúteis como estas que agora digo que ganham o status ‘fúteis’ se não lhes faço de abrigo (...) Há fagulhas de entendimento dando-me a noção da medida que dista o parto do nascimento: a maneira de olhar  para a vida

VENTO VELHO

Vento, velho aventureiro, com seus pezinhos miúdos vai cortando, ao meio, mundos lançando um olhar zombeteiro Pela estrada, vai certeiro vai levantando do fundo sentimentos tão profundos e suspiros derradeiros Deixa rastros no caminho deixa marcas, sinais tantos - deixa vincos, sulca risos - Vento, velho, não tem ninho mas, ao longe, escuto o canto numa voz que não preciso VENTO VELHO  - Lena Ferreira -

A PORTA

Há tempos, a porta do armário do quarto dava sinais de desgaste. Rangia, travava, recusava a chave e ameaçava cair. Ela, fingindo que estava tudo bem, não recorreu ao marceneiro, amigo que ofereceu serviço gratuito. Recolhia as roupas do varal, dobrava-as sem grandes cerimônias e entulhava-as pelas gavetas abarrotadas. Os cabides pediam clemência, tantas peças em desuso. Fechada a porta, nada era visto afinal. E assim, seguia nesse adiamento. Até que... Ao tentar abrí-la, como num ato de revolta, a porta caiu pesada no seu pé direito. Um urro estridente e dolorido ecoou pelo quarto. Pela casa. Pela rua. Quase arrancou-lhe uma das unhas, a do dedão. Deixou no ar uma palavra que recuso pronunciar. Não por castidade. Aliviada a dor primeira, colocou a bendita num canto e só então percebeu, de verdade, a desordem de dentro. Caos. Absurdo. Descuido. Desleixo. Deu as costas a tudo aquilo e foi cuidar do dedo que sangrava. E muito. Enquanto isso, pensava em como seria olhar para aquele cen

BASTANTE

Que me baste essa brisa mole, leve que  beija, breve, meu rosto suavizando a insana vontade de agarrar cada ponta do vento Que me baste esse sol matutino a temperar minha pele sufocando a necessidade de provocar vulcões adormecidos Que me baste este verso mal escrito a acariciar o meu pensamento silenciando esse desejo incontido de fazer ouvir os meus rasos lamentos Que me baste esse instante breve sussurrando baixinho que quando se perde uma batalha nem sempre significa que fomos vencidos Que me baste... BASTANTE   - Lena Ferreira - dez.14

VENTANTE

Vento vasto, varre e verte vozes de sonhar ao longe leva meu pensar, e breve, a atingir picos e montes Vento vibra, a voz inverte arremessando promessas atingindo a mente em greve açoitando vãs remessas Vento venta, fortemente assassinando torturas libertando toda mente que se esquece na clausura Vento avisa e brisa a folha sacudindo o pó da escolha VENTANTE - Lena Ferreira -

OS OLHOS DE BIA

- à Bia Cunha - Os olhos de Bia liam Mia, de Barros, Clarice liam tudo aquilo que vissem liam a vida na vaga do verso Os olhos de Bia viam tudo de dentro pra fora viam tudo; chegando, indo embora e faziam, de ver, um universo Os olhos de Bia eram olhos de um verde outono nem por isso criam no abandono e o vento ventava-lhe a paz Os olhos de Bia tinham um brilho assim, transbordante: eram dois risos contagiantes era um olhar de querer  sempre mais OS OLHOS DE BIA – Lena Ferreira – dez.14

OLHAR DESCALÇO

Com um  olhar descalço e desnudo andava livre por este mundo afora umas vezes falante, em outras, mudo vez ou outra estacionava e, com demora, bebericava os detalhes da paisagem de gole em gole, sorvendo as delícias desses lugares e guardava na bagagem juntamente com as anteriores notícias Embriagado, sentava quieto num canto e rabiscava todas as suas impressões em versos vários e distribuía um tanto pra que o vento ventilasse suas emoções -s omente então outro porto escolhia    para embarcar em mais uma viagem onde seu olhar desnudo em tudo via  poesia e descalço, lambia, inteirinha, a paragem- OLHAR DESCALÇO – Lena Ferreira – dez.14