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Mostrando postagens de junho, 2014

AOS POUCOS

Já não morava mais em si quando a razão bateu-lhe à porta cobrando explicação. Do que, já nem se lembrava na verdade. A última visão com claridade foi aquele olhar inquisitivo acerca dos deslizes recorrentes. Lembra-se bem que, na hora, só riu. Um riso largo que, exibindo os dentes, escondia perfeitamente o que caminhava por dentro. Quantas estradas...Quantas curvas camufladas em linha reta... Ninguém sabia. Enquanto ria, percorria o interior em busca da resposta que não vinha e, adivinha? Na procura, deparou-se com cicatrizes remotas, semi anestesiadas. - Susto! Supunha-as cauterizadas! Ah, essa alma que não cala. Ah, essa alma que, só, fala. Fala, fala e fala alto! Resultado: aos sobressaltos, os cortes acordaram, murmurando dores, estios, temores, sangrando lamentos, impingindo-lhe tormentos... Rasgou-lhe, então, um olhar estupefato, catatônico. Da vírgula pro hiato, dois pontos: quisera um ditongo, uníssono, leve, marcado indelével no peito por dent

AINDA

Do alicerce ao teto com flocos de lírios, piscavam estrelas como se chamassem a lua enquanto o vento incansável e recorrente, girava o tempo, dispensando argumentos. A cada giro, outra nuvem, outra viagem que, sem bagagem, tornava-se mais leve e, embora breve, a m o r te c i a pensamentos com sentimentos delicados e difusos. Na rara pausa, transformado em brisa mole, sussurrava uns goles de riminhas pobres aos nobres que passavam pela rua beijando seus ouvidos com o que não fazia sentido; só para quem sentia. Do alicerce ao teto com flocos de lírios, chamando lua a lua, ainda piscam as mesmas estrelas purpurinando grãos de poesia e, ainda, o vento gira todo o tempo e não se cansa. Ao contrário, quanto mais avança, facilita a construção que me habita... AINDA – Lena Ferreira – jun.14

CITO AÇÃO

A gente acha que sabe o que o outro pensa... A gente age pensando no outro, sabe? Ah, gente, sabe? essa situação é tensa... Ah, quando achar o que nem procurou, repensa... CITO AÇÃO - Lena Ferreira - jun.14

QUASE NADA

I- Bem pouco sabia sobre estilo ou sobre estética mas sentia o que lia II- Bem pouco entendia: teciam seda à poética e a primeira cedia III- Bem pouco escrevia: sob uma crítica cética apenas insistia IV- Bem pouco queria: à parte tema ou técnica, sopro de poesia QUASE NADA – Lena Ferreira – jun.14

À NASCENTE

Da prepotência de ser mar, levo comigo a incompetência nessas águas delirantes em vastidão, tendo um oceano como abrigo varrido por diversos ventos dissonantes Quisera tanto prosseguir, mas não consigo, nessa batalha inglória, embora fascinante, onde vencer parece o mais duro castigo, onde perder carece mais de uma vazante Roguei ao Sol que evaporasse essas águas junto com elas, tudo o que entender por mágoas e engordasse as nuvens desse azul de frio Depois, ao vento: sopre as nuvens à nascente pra que essas águas, gota a gota, mansamente deitem no leito e sintam a calma de ser rio À NASCENTE – Lena Ferreira – jun.14

ENTREGA

Não prometeu-me nada nem mesmo um pedaço de lua nem mesmo faíscas de estrela nem mesmo a ciranda do vento Mas me entregou o momento sem fitas, nós ou fantasias passados para a poesia; presente, foi seu sentimento ENTREGA - Lena Ferreira - jun.14

PARESCÊNCIAS

I- Olhos cheios de uma água que entorpece que, parece, só mais cresce anuviando a razão II- Olhos cheios de gotinhas de saudade que, parece, por maldade, o vento assopra à vazão III- Olhos cheios de uma nuvem que galopa que, parece, a alma ensopa dimensionando a aflição IV- Olhos cheios de uma chuva que não tarda que parece só aguarda do vento, outra direção PARESCÊNCIAS – Lena Ferreira – jun.14

QUARTO CRESCENTE

A noite deitou calma nos olhares fim de outono quase inverno, cobertos por quereres vários e vontades  já sem sono. Entre carícias macias e afagos sussurrados pouco a pouco iam sendo satisfeitos e a mansidão da fala aconchegava-se nos dois peitos. A brisa, que brincava na janela engordando as cortinas, escapou por uma das beiras, rodopiando faceira por toda extensão do quarto animando o seu crescente. A lua ao ouvir tanto alvoroço, esticou-se à janela para contemplar a imagem. Encantada com com o que viu, estendeu na madrugada um véu todo salpicado de pedrinhas rutilantes. E para completar a cena, solicitou ao vento do instante que soprasse um doce aroma de rosas, alecrim e de verbena. Atendida prontamente, cada canto desse quarto era de puro perfume e o lume vaporoso que trazia, cobria esses olhares com grandeza em ternura que a noite adormeceu amolecida, perdendo o  encontro com a aurora . Ao acordar, pensou mesmo em ir embora mas logo percebeu que já era hora... era hora de voltar.

DESPERTA

Desperta para a vida, vai, desperta mantenha a calma que fora conquista e em meio de tudo que mostra a vista preserve a mente, sempre, sempre alerta Atenção às palavras na hora certa e se preciso for, faça uma lista das que só edificam e pacifista, terá um novo mundo a descoberta Onde não há seguro ou garantia de que no entorno há paz e harmonia; a meta é o equilíbrio bem no centro Desperta para a vida, vai, é hora de ver que é inútil procurar por fora o que, o tempo todo, esteve dentro DESPERTA - Lena Ferreira - mai.14