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Mostrando postagens de maio, 2014

DESVIO

Para desviarmos dos lamentos e dores, falaremos dessas cores vivas que, entre palmas, brotam nos olhos do dia-após-dia, aquarelando os rostos distraídos com as coisas pequenas que abraçam a alma. Para desviarmos dos lamentos e dores, fiaremos falas amenas nos lábios sinceros e, brandos, semearemos grãos de simplicidade no campo, o peito, onde é amplo o sentido das coisas pequenas que abraçam a alma. Decoraremos todo o canto esquerdo com o sussurro das flores bordadas de orvalho e em cada toque, o seu perfume macio e em cada gesto, o seu sereno tranquilo aquarelando os rostos distraídos. Para desviarmos dos lamentos e dores, falaremos dessas cores vivas, de flores, de vida e, simples, com c(alma). DESVIO - Lena Ferreira - mai.14

POEMA ADORMECIDO

Silêncio. Não acorde esse poema que dorme tão tranquilo e satisfeito embora minha pena ainda trema depois de tê-lo escrito no meu peito. . Descansa as sucessivas sensações viagens por veredas fascinantes provou de tantas, tantas emoções quando tocou as notas mais sonantes. . Repousa, embevecido, esse meu verso num sono tão profundo; meu reverso que insone, monto guarda; solidário. Silêncio. Não acorde este poema - embora essa vontade seja extrema - pois descansar o verso é necessário. POEMA ADORMECIDO - Lena Ferreira -

DAS MANHÃS

As manhãs do fim de maio nascem com tanta preguiça pálidas peles, umedecidas pelo orvalho do parto sopram seu hálito fresco em maciez e suavidade e, estendendo um tapete alvíssimo, esperam... Enquanto as horas deitam calmas sobre as nuvens aguardando os minutos, os segundos adormecem Nessa demora, todo entorno é suspense nada parece acontecer... Sem anúncio, um rasgo estreito rompe o céu azulejando um bom pedaço de todo olho testemunha que, em êxtase, contempla a nesga estreita dilatando e, calmamente, dando a luz a um tímido sol... DAS MANHÃS – Lena Ferreira – mai.14

DO PESO

E foi precisa a guerra santa entre os dois mundos para que a paz desse sinal, ainda que tímida, no sítio tenso, encharcado de queixumes que transformavam penas leves em fardo-chumbo - insuportável o peso de tantos desditos - E foi preciso um sim disposto ao não em alarde que, desde à tarde, salivava reticências em exigências absurdas, impensadas manchando o verbo que acalmava a mente sã - insuportável o peso do tanto não dito - E foi precisa a hora de voltar ao centro para que as letras, calmas, bebessem a audição em taças altas, fartas, num brinde silente e conivente sem que restasse um senão - insuportável o peso do 'tenho razão' - DO PESO - Lena Ferreira -

BRAVURA

Inexplicável a insensatez, o absurdo que sinaliza o passo incerto e o impulso do vento avulso e virgem que pinga ojeriza sobrevoando a pele calma do oceano Como quem busca faltas fartas, desenganos segue incitando maremotos abissais nas águas que nasceram pra serem serenas; apenas cedem ao vento, explodindo em ais Inexplicável a insensatez, não só do vento principalmente dessas águas que, inseguras, precisam falar da sua força a todo tempo (com isso, perdem as longas ondas de ternura e, revolvidas com o alheio comportamento, esquecem que o silêncio é um ato de bravura) BRAVURA – Lena Ferreira – mai.14

SALA DE ESPERA

Deito-me numa sala de espera morna e impacientemente aguardo que tu chegues com teus olhinhos cansados da busca pelo vento farto que em mim mora desde sempre. Deito-me e tento adormecer a angústia de imaginar-te a procurar-me insanamente por entre copos e corpos vazios, cheios de máculas e cacos pontudos das entrelinhas diversas desmaiadas. Deito-me na nuvem macia e segura que é pensar-te em mim, inteiro; sem sustos, sem medos e sem segredos, posto que já escorrem pelos vãos dos tantos dedos meus, exclamando - ingênuos e tolos - desesperadamente do bem sentir-te, do bem querer-te assim, tanto, tanto e simplesmente... Deito-me e aguardo... Que a tua calma se apresente e me abrace, urgentemente. SALA DE ESPERA – Lena Ferreira –

BRISA

A brisa que percorre o meu céu zelosa, em secreta intimidade, refina essas fases planetárias de frases desconexas e solares Resfria a cauda dos astros vorazes mordendo a ponta das noites insones e madrugando-me em silêncio assaz nina, tranquilamente, o desassossego Purpurinando calma nos meus olhos planta, nos lábios, bocejos infantes: adormecendo, quase sonho esse azul não fossem as promessas circulares... BRISA - Lena Ferreira - mai.14

LEITURA

  Sobre as linhas de um poema que se ajeita num leito branco, traduzindo a sua fala, há silêncios cativantes que se deitam e, cobertos de entrelinhas, mais se calam... LEITURA - Lena Ferreira - mai.14

FASTIO

Do soco seco vindo de uma dor extrema nasceu um poema tão sincero, tão bonito como se, escrito, o que rasgava em dois o peito adormecesse no papel, mas levemente... Quisera mesmo era apagar, do estrago, o efeito mas o que é grave, a alma grava e é indelével e a razão, que teima em greve nessa hora, só colabora em aumentar esse fastio... Resta voltar o rosto para um outro canto e escrever tanto, tanto quanto for preciso para que a dor escorra, inteira, pelos dedos e adormeça no papel, eternamente... FASTIO - Lena Ferreira - mai.14

SER MÃE

Em nenhum livro que hoje se leia, - melhor que seja a publicação - encontraremos o que permeia o cumprimento desta missão Nem mesmo na experiência alheia nem mesmo no mais belo sermão porque o ser, corre-nos nas veias porque o ser, faz-nos  coração Um coração que é de inteira entrega, que multiplica, e jamais renega, um grande amor que mais vai crescendo Fora esse amar, não há receita nova e o que a vida hoje me comprova: ser mãe se aprende - e se aprende sendo - SER MÃE – Lena Ferreira – mai.14

MAIS UM DIA

Convida-me a beber cada segundo do momento. Aceito. Ajeito os cortes recorrentes do defeito e sinto o efeito de uma brisa conivente: cauteriza-me as feridas; se não sangro, esqueço. Aqueço o verbo com seu caloroso abraço e meus pés, antes cansaço, pisam tímidos no mar. É cedo e a água fria arrepia a alma em pelos e o vento nos cabelos é como um apelo à razão. Desperto. Mergulho breve, respiro certo, penso mais leve; a calma, perto. Lavo o inverso e o avesso. É mais um dia no Universo.  É mas um dia e eu agradeço... MAIS UM DIA – Lena Ferreira – mai.14

BOEMIA

Quando a madrugada principia a tristeza e a alegria, de mãos dadas, vão à rua. Passando por becos, dobram esquinas enquanto, em suas retinas, brilha, generosa, a lua. Caminham por bocas e lugares, pelas mesas de alguns bares até encontrarem assento. Sentando, entregam-se à boemia, servem-se de poesia que transborda sentimentos. BOEMIA – Lena Ferreira – mai.14

RENITENTE

Um monte de talvez ao pé da porta, que abre e fecha ao sabor de qualquer vento, mistura-se às perguntas sem respostas, e evocam o sentimento clandestino em doidas e vãs considerações. É quando a madrugada, fria e longa , prolongando, em agonia, o pensamento da alma que no tempo se encosta, - portanto, já perdera o senso e o tino - convoca as mais estranhas reações: olhos pisados por um passado renitente, mãos suadas por uma espera inútil, pés bêbados pelo passo tolo, fútil e o peito aflito em reticentes pulsações. Quase morta com o vai e vem da porta, (que, resistente, não fecha) observa, ainda, o vão do não que tudo importa. E a brecha, o trinco, a chave e a dobradiça enferrujada cobrando, insistentemente, a solução. Então, à duras penas, socorre as lágrimas sinceras que escorrem nessa hora e abdica da inútil espera. E de tudo, o resto, outra conduta. E, enquanto a calma, mesmo que breve, lhe acena, levanta resoluta, bate a porta e vai embora... RENI

ADIA

Há dias em que o ponteiro não adianta e o grito na garganta, preso, é quase explosão. Há dias em que a seta é curva torta e altera toda rota sem sentir a direção. Há dias em que a palavra é um corte: cada letra é semimorte; rasga a alma e o coração. Adia,  nesses dias, qualquer fala, qualquer gesto; o que se cala é melhor  que explicação.   ADIA - Lena Ferreira - mai.14

MERGULHO

A tarde, caminhando preguiçosa de mãos dadas com um vento quase brisa, quase frio, levava dois pés pela areia da praia onde as ondas pequeninas de um mar deitado numa  calma breve, oscilando leve, leve, ameaçava virar, lá longe, um barco repleto de certezas concretas. Secretas, gotas de maresia, beijavam seus medos enquanto, fincado na beira, tentava se distrair com punhados de areia a escorrer por entre  dedos. Inútil...Um nó na garganta, uma angústia extremada, um cheiro de covardia, um gosto de pavor perturbava-o com a possibilidade de ver o naufrágio de um barco tão frágil. Cogitou um mergulho. Afinal, eram águas tranquilas, eram águas tão mansas. Eram águas serenas. Era assim que pensava. Nada sabia do que se passava no meio do fundo. Nada sabia enquanto mergulhava. Braçadas, braçadas, braçadas... E o pensamento aflito fervia em considerações. E descobertas. Nem percebeu que o mar levantava-se em agito e graves oscilações.  Foi-se o barco e  as certezas, uma a uma..