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Mostrando postagens de fevereiro, 2014

TRISTEZAS OCEÂNICAS

Tristezas oceânicas se alargam se nadas nas lembranças sem preparo trazendo à tona as que a boca amarga; eventos que não ficaram bem claros Tristezas desse jeito, paralisam teus passos, do presente pro futuro a alma, o olhar à vida, marmorizam e, até na claridade, vês escuro Tristezas, pelos olhos, liquefeitas escorrem até desmaiarem no leito; é onde morrem mas, não satisfeitas, ressuscitando, alagarão teu peito TRISTEZAS OCEÂNICAS – Lena Ferreira – fev.14

ESCALADA

Principio escalada penhasco íngreme inspirando possibilidades Agarrada ao desafio desteço sustos, destraço medos, destruo surtos, destravo segredos Presa à coragem solto as feras, saltam as veias suam sensações (bagagem? bobagem! vertigem? voragem!) Se canso, descanso bebendo paisagem Se caio, levando desvio miragem  Persisto... Escalo me ralo não calo o discurso Respiro descompasso transpiro probabilidades Agora a questão: o que vale suar o rosto é chegar a qualquer custo ao topo? eu penso que não A glória da escalada: experimentar, gota a gota, o gosto do percurso da paisagem aspirando inspiração ESCALADA – Lena Ferreira – 12(...)14

DESAFIO

Observar o mar bravio em seu recuo causa-me um misto de espanto e fascínio como resposta a uma provocação do vento revira o fundo; conchas, pedras, lodo, limo Trava batalha inglória e incauta com rochedos fragmentando a calma - a posse, o seu domínio - ondas crescentes em altura e volume tombam em gritos acordando tolos medos Quando retorna à praia, traz, entre as espumas, todo o desgaste salmourado e em seu declínio deita e, cansado, espera por horas de estio - mas, para o mar, qualquer espera é um desafio... - DESAFIO – Lena Ferreira – fev.14

OPÇÃO

Se dou ouvidos à palavra amarga - a carga, o peso, o ácido da língua - sobrecarrega os ombros e estraga o dia, a noite e tudo em volta míngua Se dou as mãos para a palavra leve - com dedos que possuem peso-pena - o pensamento muda e não se atreve a desviar das coisas mais amenas (...) Se tenho a referência do que pesa à alma e o que a ela acrescenta, dispensarei, então, a que me lesa e abraço a que do bem me alimenta OPÇÃO – Lena Ferreira – fev.14

ROGATIVA

Um ser composto por idas e voltas patrocinadas pelo que o excede palavra o rastro das reviravoltas vincando a ponta do que não se mede Um ser composto por fases da lua exacerbadas pela cisma fútil penitencia o verbo além da rua mas o silêncio, armado, é inútil O mesmo ser, com um posto provisório, de jeito grave e gestos transitórios, já ensaiou adeuses sem a palma O mesmo ser - loucura ou heresia? - se prostra aos pés da santa, a poesia, e roga ao verso que retorne à alma... ROGATIVA – Lena Ferreira – jan.14

TOMARA

O sol tem acordado bem mais quente num céu de um azul anil que grita deixando uma multidão aflita; suando corpos, derretendo mentes E num verão de calor inclemente qualquer palavra queima se mal dita modificando a expressão contrita para trovões e raios recorrentes Mesmo sem nuvens, nessa hora chove parece, o céu, até que se comove e, pelos olhos, desce sem censura Tomara que, por fora, logo chova molhe a palavra e, enfim, promova delicadezas, gestos de ternura... TOMARA - Lena Ferreira - fev.14

IMPRESSÃO

É mais um dia em almas suam onde verbos flutuam. Onde um tanto mais de poesia anda por essas ruas tingidas por um sol que, não tarda, arde. Caminha, sem grandes alardes. Caminha e vai descalça rumo a um horizonte de nuvens isento, por hora sem vento. Atento, o poeta observa seus mais vários passos e no mesmo compasso, seus dedos dançam, no teclado ou no maço de papel, coreografando a sua impressão. E da visão que seus olhos permitem, que sua alma captura, que suas mãos alcançam, um verso salta solto da suposta clausura abraçado ao tema. E daí pro poema, nada há de censura. IMPRESSÃO - Lena Ferreira -

PRISCILA

Priscila oscila entre o riso e o pranto entre a calma e o conflito o silêncio e o grito o profano e o santo sustenido e dó uns dizem ser quebranto outros, que desencanto mas eu não sei bem não... Priscila vacila entre o passo e o compasso entre os pés e as asas a geleira e as brasas a forquilha e o laço o enfeite e o nó uns dizem ser cansaço outros, que embaraço mas eu não sei bem não... Priscila desfila entre a ira e a ternura o remédio e o veneno tempestade e sereno vizinhança e lonjura companhia e só uns dizem ser loucura outros, que não tem cura mas eu não sei bem não... PRISCILA - Lena Ferreira - fev.14

VOA

''Os filhos crescem, criam asas e voam.'' A primeira vez que ouvi esta frase, ia longe a sua assimilação assim como também ia longe a iminência do fato. Ainda ontem, era apenas um garoto tímido e franzino brincando com videogames e bonecos de combate. Mas agora, com malas prontas e pouso acertado, um misto de angústia e medo e preocupações e muito, muito orgulho, me confunde. É claro que cedo ou tarde, pássaros deixam seus ninhos mas pra nós mães, principalmente, será sempre cedo e por mais que tenhamos a confiante certeza de que os preparamos para a vida, jamais julgamos que estejam aptos a se virarem sozinhos, longe de nossos mimos, nossa comida, nossa bronca, nosso carinho, nosso conselho, nosso colo...Talvez, na verdade, quem não esteja pronta para deixá-lo ir, seja eu. Nunca estarei!? Ah, essa mania de querer controlar tudo...Sempre será cedo. É cedo hoje. Será cedo amanhã, ano que vem e depois... Então, que seja; deixo-lhe a cargo dos valores qu

NO COMANDO

Vivemos num mundo de pressas correndo, quebrando promessas, esquecemos o princípio no meio Que o que importa, na realidade não é a força nem a velocidade; é saber quando e como usar o freio Se a vida é feita de mão e contramão, preciso é saber comandar sua direção NO COMANDO - Lena Ferreira - fev.14

CÁ, REGO

Há, sedentas, inteiras, violentas certezas que, correndo outros céus vão crepitando campos Cá, rego a força primeira com violáceas clarezas que, retirando véus, tornam o campo mais amplo CÁ, REGO - Lena Ferreira - fev.14

POR DENTRO

Desde que tropeçaram em suas carências, abraçam-se em compromisso que logo rendeu-lhes um fruto. E outro. E mais um que herdaram as pendências de uma árvore em atrofia. Noite e dia, podia-se ouvir os lamentos frustrados entre os dentes trincados e os gemidos gelados nos dois travesseiros da cama-resposta. Por anos. E os danos dessa situação, cada vez mais evidente, revelavam-se nos vícios. De ambos. Ameaças de ontem no agora, levando embora só a roupa do corpo já morto pelo caso e o descaso jamais foram cumpridas assim. E o fim, iminente mas covardemente abortado por anos, talvez tenha causado o desgaste presente. Quando, enfim, a coragem acordou - e já passava da hora - os frutos, abraçando a árvore, atacaram a semente, lançando-a fora. Natural?! O que não é legal é que quem está de fora pensar em julgar um ou outro já que não consegue nem pode entender o que, verdadeiramente, se passou entre ambos por anos. Por dentro, os danos... POR DENTRO - Lena Ferreira - fev

ACEITA

 Aceita...   É seu o novo verso e bem sabe e antes que por um dos olhos vaze espero sua obtemperação Aceita... É sua a alma inteira, toda nua e antes que desponte cheia a lua espero a mínima contemplação Aceita... É sua e sua a boca que saliva e antes que o tempo a deixe à míngua espero pela sua exploração Aceita... É seu o meu oposto, o avesso e antes que mude de endereço espero pela sua compreensão Aceita... É sua a chave nova e até a senha mas vê se não demora; logo venha e traz, urgentemente, o seu perdão ACEITA - Lena Ferreira - fev.

AINDA BEM

A gente sabe mas se esquece... do peso que traz as palavras do grito por trás do silêncio da pedra que faz o caminho do riso que traz o conforto do choro por trás do sorriso do vento que refaz a brisa da força que rege o centro da luz que ilumina por dentro A gente sabe mas se esquece... Ainda bem, quem nos conhece chega de manso e um fio tece pra despertar o que adormece E, acordada, a gente, muda, agradece. AINDA BEM - Lena Ferreira - fev.14

DESTREZA

Quisera, mesmo, essa serenidade e complacência com que se apresenta mesmo diante da brutalidade de um forte vento, na paz se sustenta Quisera, mesmo, essa suavidade olhando os fatos, sempre, sempre atenta mesmo diante da adversidade doa palavras que meu peito alenta Quisera, mesmo, essa humildade com a qual ensina e à alma acrescenta pois nos seus versos de realidade há sapiência e há luz que apascenta Quisera, mesmo, ter sua destreza: domar tormentas e sair ilesa... DESTREZA - Lena Ferreira - fev.14

RE(CURSO)

É com pés miudinhos que passo o passo a caminho de um espaço curto e estreito onde cochilam tempestades - silêncio - É o jeito... RE(CURSO) - Lena Ferreira - fev.14

MIRAGEM

No voo o vento e o verde da passagem distrai ressentimento da bagagem em torno do momento a paisagem entorna o livramento qual miragem MIRAGEM - Lena Ferreira - fev.14