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Mostrando postagens de 2017

mais te sonho

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...mas, não há noite, meu bem, que se acenda sem que o dia, embriagado por dois sóis, traga a brasa ascendente dos teus traços enquanto rimas delírios e quereres ah, que tão prosa me faz este teu vento que me galopa os campos e as colinas e me contorna mais um dos pensamentos bem no relevo que enleva e extasia é dessa fonte que me traz o alimento mas, me deserta na sede entre dois goles quando semeia um verbo indizível no chão de outras promessas já quitadas ah, que tão nossa é a noite, essa, e toda toda e tantas, e tão desritmadas que, pra te ver, e sonhar-te, não mais durmo pois mais te sonho, e melhor, quando acordada - Lena Ferreira -

é para lá que voo

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dizem que o novo verso anda no meio do povo varrendo as ruas, os becos e as esquinas abrindo as bocas e as frestas das cortinas fechando entranhas dos estranhos sinais suturando os cortes consagrados em ais estancando hemorragias, estocando poesias dizem que o novo verso anda onde não anda o eco arrítmico do ego, da cisma, do abalo sísmico   das palmas, das plumas, dos ressentimentos dizem que o novo verso anda entre os movimentos das mãos na lida e dos pés na lama, descalços entre os percalços, dúvidas e tropeços das crianças plantadas na marra pelos campos desertos de sonhos apesar da mínima a idade barrigas vazias de lua cheia dizem que é por lá que o novo verso anda anda e versa enquanto semeia estrelas enquanto espera pela lua crescente no mais, tudo é tão velho, é arremedo dizem, apenas uma roupagem nova para o antigo verso que surgiu mais cedo - dizem que é por lá que o novo verso anda então é para lá que, se

entre o gosto e o espanto

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foi assim, entre o gosto e o espanto que intentei seu cansaço no meu e acolhendo a sua língua arredia convoquei esse encanto no breu: olhos baços num tom de outono duas folhas que caem sem querer e se vão com um vento indisposto sem destino saber, sem querer recolhi esse olhar complacente e lavei na mais pura das águas as três mágoas debaixo da ponte onde a ira quebrou seus dois pés - que o pedaço partido no espaço pouco a pouco, parece, refez - e, outra vez, tentativa e fracasso: num duelo entre espada e punhal os desejos, talvez prematuros, os cansaços passados do tempo e um vento invocado no meio impedindo o compasso final entre o desencanto e desgosto, meu cansaço cansou-se do seu   mas, ainda mastigo as vontades desse olhar que nada prometeu - Lena Ferreira - 

notas

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é certo que uma lonjura nos separa essa, irrestrita, intocável e indefinida  pelos séculos que se arrastam em suspiros incalculáveis pelo tempo despedido - mas, nós, que fomos notas tantas um dia, transporemos si bemóis assim, espero - pudesse, deitava agora os meus apelos nos pelos do compasso mais fremente rompendo as correntes do absurdo num grito mudo que me ecoa bem no centro mas, na impossibilidade evidente, cá, rego as cifras dessa espera miúda de que, de perto, como as notas mais propícias dedilhadas pelas mãos do clã destino ouvir-se-á nossa canção de reencontro - então, seremos música, novamente - - Lena Ferreira - 

menos a saudade

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A noite, com passo apressado, fazia um esforço tremendo para acompanhar os céleres pés do meu compromisso. Luzes piscavam, como fossem sinais de alerta apontando-me a seta - imprudente - e por um segundo senti-me culpada pelo que nem pequei. Peço perdão, mesmo assim. As ruas com seus movimentos, lembravam-me o que é existir lá fora. Há tempos enclausurada em pensamentos, pouco lembrava do que  era tudo aquilo. Em meio ao alvoroço noturno, me dei conta de que o percurso era o mesmo. O mesmo que, por tantas vezes, fizemos. Mãos dadas, sorrindo.  Ah, parecia até que o vento me espionava - e me espiona tempo todo, pressinto... - Porque, naquele exato momento, ele me abraçou como se adivinhando a lágrima que ensaiava cair. Ela veio, porque sim, inevitável, mas ele logo a levou. E deixou-me essa sensação doce. E calma, e serena. Tranquilizando-me quanto à escolha feita de voltar à vida, à luz e à lida. Do que já não é mais um sonho.  Desde então, sigo em frente, respirando bai

é nada

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e a voz é pouca, é mínima distante dos fatos entardecidos sob as folhas de vertigens calmas entre as nuvens de um céu cobalto onde o instante, de tão raro, para e confere o arrepio interno que o esterno controla, aparente, e o externo segue, lentamente, como se, tendendo ao sobressalto, incorresse em crime sem soltura e a voz é pouca, é ínfima distante dos afetos anoitecidos   respingados de sereno e de história de uma trajetória isenta de depois onde o passado a limpo ressuscita e interfere nesse verso estanque e soluçando as rimas que inverno planta no peito do que não foi o verbo preciso e irrestrito que águo da forma mais bonita contendo as torrentes de nós dois ...e a voz é nada - Lena Ferreira - 

quase conhecida

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as vezes que se vestia de vento, varava as ruas várias avarandadas levantando as velhas folhas avermelhadas que voavam como voam os pássaros aflitos e assim as folhas iam, desesperadas iam assim, a contragosto, sem lar, destino parar em não sei onde, mas sei porquê capricho pouco, sacudia a cabeleira farta dispersando o pensamento pequeno e louco tão vento, e tão incauta e desarmada espalhando a poeira de outros desditos e as folhas, assentadas sei lá eu onde observavam, quietinhas, o desatino das vezes que ia vestida de vento em vento mas, as vezes que se vestia de terna brisa, refazia-se em promessas ensoladas e acenava para folhas ainda aturdidas que assim permaneciam, feito em cautela e, por ter vestidos vários - incluindo a chuva - era quase conhecida quando ia vestida mas, passou em brancas nuvens quando despida e, despida, despediu-se do ser inconstante - Lena Ferreira - 

ok, ok...

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Ok, eu sei... Nem sempre será sol. E vai ter chuva, sim. Ventanias, tempestades, sim, sim. Porque faz parte do clima. E do 'clima'. E porque faz parte, aceito. E porque aceito, não me domina. Ou, nem tanto. Não mais. Porque sei o que quero. Quero paz.  Clichê, auto-ajuda, mantra, otimismo tolo e fútil... Seja lá o rótulo que imponham, sigo crendo que, 'apesar de', acima das nuvens, e aqui dentro, há um sol que me pertence e que, num sopro, solicito a chama toda vez que faz frio em volta. E ele me responde sol-rindo. Sempre. Ok, ok...Vai ter chuva? Sim. Ventanias, tempestades? Sim, sim. Mas, colocando-me acima do clima e do 'clima', também serei sol. - Lena Ferreira - 

nem é lua cheia

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não é hora, creia, de mexer no pacto de rever o impacto que ergueu o escudo noutro verso mudo que mantém intacto sob a luz da lua que observa a sombra do verbo que sobra sobre outro silêncio estéril de gestos não é hora, creia, de bulir na calma saturando a alma nessa noite escusa o sol ainda tarda e outra lua aguarda pelo verso liso que pretende o simples longe dessa rima: ser só a palavra que não desanima - ...não é hora, creia nem é lua cheia... -   - Lena Ferreira ​ -

ainda

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quem disse da noite mais fria é certo que desconhecia que, embora não houvesse fogueira, a chama que chama, altaneira no peito de nós, ainda ardia ainda - Lena Ferreira -

quem sabe

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eu nunca digo nunca, isto é certo, pois penso que o nunca é calvário é peso morto, é desnecessário é palavra que, longe, traz pra perto uma distância que não se imagina e uma certeza que não é bem certa e fecha a porta que queria aberta e abre, à força, o que não se domina que chamo teimosia, simplesmente: o nunca, como nunca, livremente passeia pelas línguas, a seu jeito mas, digo, vai rendido aos costumes pois se deitarmos, na razão, o lume veremos no 'quem sabe' mais proveito quem sabe - Lena Ferreira
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risco um verso no tempo arredio e ouço a pauta pesar no seu corpo que agitado contorce-se, torto: tiro o verso pensado em desvio outro verso na pele do cio e ouço o alarme do tempo pudico que censura, então retifico: tiro o verbo pensado e o resfrio outro verso no vento do instante mau nem bom, nem mesmo consonante vou, me arrisco nas letras a fio o que importo é o amor pela escrita boa ou ruim, é ela que me dita a importância desse desafio desafio -  Lena Ferreira  -

coincidência

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incide a luz sobre esses olhos negros negros, negros como a noite que a gente sempre quis fresca das notas que os dedos vários da lua propiciam ternamente as canções que ontem lhe fiz chamando estrelas que retocam o nosso verso nascido na hora mais extrema entre o riso e a calmaria coincidindo, essa luz que ora lhe cobre pouco a pouco, nos descobre mais que versos; poesia - Lena Ferreira -

arquitetura

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que, pra chegar até aqui,  atravessei muitos desertos séculos de fome e de sede impostos pela auto clausura e não pense que há lamento nos versos que vão aos pés do vento são somente grãos de areia que facilitaram a arquitetura do momento onde me encontro observando, mansamente, o aceno brando da ternura -  Lena Ferreira  -

outra vez

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Remexia sua bolsa como se procurasse alguma coisa muito importante. Suas mãos suavam pressa, incômodo e impaciência. Por fim, resolveu virá-la de ponta cabeça. De lá, como vômito, saiu um sem-fim de inutilidades. Pontas de cigarro, contas por pagar, algumas ausências que por protelar a procura, prescreveram reencontro. Uma fruta em estado de decomposição, um sim, dois talvez e três nãos. E o caos generalizado esparramou-se no chão. Fitou o amontoado um tanto indisposta . A náu sea instalou-se no seu pensamento. Mais uma vez. Vontade de virar as costas para tudo aquilo. Mas. Não podia. Não devia. Era hora de encarar os fatos. E as fotos. Que desbotadas pelo tempo esquecido, faziam alarido no espaço apertado. Do peito.  Não deveria ter deixado tanto tempo assim. Mas.  Assim foi. Fechou os olhos. Respirou fundo. Selecionou os trastes imprestáveis e deles se desfez. Mais uma. E, outra vez, esvaziou sua bolsa. E, com o espaço conquistado, alma e corpos já suados, aos poucos, outra

e tudo dorme

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a noite acorda sem grandes anseios e o quê contido nela se apresenta com seus andrajos que cintilam sono entre os fiapos que soçobram viço e assim se arrasta madrugada afora levando estrelas nas costas curvadas ressona as vezes do não estendido pelas estradas do abortado sonho da sua boca, um murmúrio escorre arrependido pelo verbo estanque deitado, estéril, num quintal baldio cavando a terra que sua remorsos - e tudo dorme enquanto isso acontece verão só rastros quando amanhecer - e tudo dorme -  Lena Ferreira  -

sentinela

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o sol desperta e, como sentinela, defende os campos que vão distraídos com os sinais escusos reformados pela certeza imposta, recorrente estica as franjas de brilho clemente espalha o aroma que vem lá do centro espelha rostos que já tão dispostos abraçam a calma de ser mais um dia e em nada disso, espraia o arremedo: é só ciência do que oportuniza é só ciência da mais pura essência que, nessa vida, em nada há final *sentinela -  Lena Ferreira  -

na preamar do meu sorriso

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contemplo-o a recitar seus rios na preamar do meu sorriso líquido e extenso desembocando rimas fluídicas nos lençóis de águas e algas onde se agitam os desejos das mais antigas nascentes e seus improváveis segredos e, no curso em que me ponho, declamo-o meu, afluente desaguando oníricos beijos - lírico, fluídico e recorrente, contemplo-o e proponho: não me acordem tão cedo - na preamar do meu sorriso - Lena Ferreira -

quem disse?

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Há tempos não visitava o sarau do Leme à beira-mar. Ah, o mar. Não bastasse a poesia, o mar. Dois amores que carrego com zelo. O mesmo que uso agora, para que não se quebre o encanto de ter presenciado a função mais sublime da poesia. A social. Veja, o único protocolo que sigo a risca é o do respeito. Por tudo. E por todos. Dito isto, repenso as sensações impressas e expressas no retorno ao Quiosque Estrela Azul ontem, no evento   Pelada Poética No Leme Com Eduardo Tornaghi . Onde encontrei renovados amigos. Foram tantas. Emoções, impressões e expressões. Na minha chegada, rezavam, os poetas, suas poesias. E, por respeito, sentei-me silente para tragar uns goles. De poesia. Um ambulante passava pelas mesas oferecendo amendoim torrado. Num papel de pão, como amostra, para que provado e aprovado, pudesse lhe render uns trocados. Fim do dia, quase. Poucas vendas. E a poesia fluía. Passados alguns instantes e ela, a poesia, calou-se diante de um enorme desrespeito. Ao ir-e-v

à outra pauta

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da dúvida plantada no espaço onde se debruçavam os meus dias colhi, certeiro e claro o teu pecado que, impávido, privava a alforria do meu, embora curto e tão lasso, vivido de tentar, noites e dias de tanta tentativa, acabrunhado desfez-se em rima pobre, quem diria mas não desisto fácil, estejas certo embora assim desfeita do deserto embora ainda assim, um tanto incauta remeço o passo, então chego mais perto futuro um horizonte, então desperto, e entrego minha certeza à outra pauta - à outra pauta - Lena Ferreira - 

extremos

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tínhamos os meios mas, absurdamente, optávamos pelos extremos: trêmulos temores dúvidas exatas clausuras insensatas greve à sensatez que, por sua vez, maculando o instante trocava o constante por outro talvez - Lena Ferreira -

cor de fogo

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é um mar esses teus olhos cor de fogo acesos incensos seculares olhares que vagam pelo corpo poemas, dois dos espetaculares em ondas que chamam, atrevimento em notas de fina quintessência são folhas dançando contra o vento com passos beirando a excelência é um mar esses teus olhos cor de fogo que acendem o rubor da minha tez ah, se eu permaneço nesse jogo bem certo é que me afogue de uma vez - Lena Ferreira - 

e 'stato già scritto

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mas, estava escrito que assim seria se te esquecesse, reencontrar-te-ia não diferente do ser que lembrava  indiferente ao constrangimento que lembrança certa, imune ao degredo, desperta e esperança o reconhecimento e acorda os medos tão bem conhecidos dos tempos idos - salvo engano ledo - mas, estava escrito que assim seria: eu compondo loas que dedico ao vento tu dispondo afinco ao distanciamento - Lena Ferreira -

quando tu vens

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sei bem quando tu vens antes mesmo de chegares a faceirice dos olhos ruboriza ondas variantes pelas curvas e setas indicando o porto certo mostra-me um cais seguro de atracação sei bem quando tu vens a brisa mole traz o teu perfume lenta, a mente queda os pensares e a alma desmaia em sensações imprevistas, surpreendentemente sei bem quando tu vens pássaros cantam ao longe anunciando a tua chegada asas cansadas de voos incertos por nuvens densas, carregadas de ais sei bem quando tu vens o vento para e, no vão do seu silêncio, o teu silêncio me fala bem baixinho da paciência em reserva que é amar sei bem quando tu vens e antes de chegares, eu me apronto pausando a ansiedade, eu me deito na tua calma que traz bem e mais - Lena Ferreira -

licor

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ouço o teu instinto borbulho voraz que embriaga a paz tal qual vinho tinto que desta vez perfaz o momento exato do ambiente intacto onde, em mim, te sinto - náufragos desejos afogam-se nos beijos - perfume de lírios exalando, apraz ciciando o mais chama o arrepio e outra vez perfaz com o mesmo impacto mas, tão, tão distinto que, completo, em paz espasmado, jaz o licor do cio - Lena Ferreira - excerto do livro "Dedo de Moça"

atrasa

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pouco adianta apontar o defeito observado no comportamento de quem caminha contrário ao seu vento e que não pousa a mão no mesmo peito pouco adianta o vago julgamento que, inútil, tenta imputar o efeito de que o outro siga o mesmo jeito que enxerga a vida e tome o seu assento pouco adianta indicar-lhe a trilha que toda trilha é feita amiúde em passo estéril ou passo fecundo pouco adianta dar-lhe uma cartilha dá-lhe o exemplo em cada atitude *seja a mudança que quer ver no mundo - Lena Ferreira - *Mahatma Gandhi

e, quando me poesia

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és tal qual seda que, macia, nirvaniza, num abraço, o broto de ventania que plantei em um mal passo és tal qual brisa que alivia o peso do meu cansaço no findar de cada dia sobre tudo o que não faço ah, tanges toda a agonia dessa nuvem algodoada no céu que te apropria risca a estrofe calada e, pra nossa alegria, chove a rima esperada   - e, quando me poesia, eu não preciso mais nada - - Lena Ferreira -

dois ímpares estranhos

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dois ímpares estranhos em provável  reconquista noite média, em lua alta alta e cheia e imprevista mesmo céu, órfão de estrelas divagando, corpo-espaço bebendo da  maresia como as ondas, tempo-esparso língua entranha, essa que minha liquefeita e inquisitiva assunta o peso da lida escrita e, à pergunta em descompasso pela pressa nada urgente sussurrando em tom de brisa tão modesto e complacente, me dita: “corte a barriga da vida” - Lena Ferreira - crédito da imagem: Jorge Ventura referência textual: http://www.citador.pt/textos/escrever-e-triste-carlos-drummond-de-andrade