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Mostrando postagens de julho, 2015

CANTO PRIMEIRO

Cessa o vento quando o canto ecoa em sibilos dos mais vários cantos a cantiga que o instante entoa contagia os corações, os tantos Que vagavam pela vida estreita ressentidos, como bandoleiros com suas liras em dores suspeitas iam surdos ao Canto Primeiro Cessa o vento - no efeito das notas os sentires tomam outras rotas olhos passam a enxergar bem mais os ouvidos, muito mais sensíveis, abrem-se para os sons aprazíveis dos sibilos que lhes trazem paz - CANTO PRIMEIRO - Lena Ferreira -

BRISAM-ME

Enquanto anoto as notas que a noite traz nem noto o tempo que me olha tão atento pudera, ando distraindo-me com o vento com os rodopios que seu movimento faz Nas luas que vão descuidadas, vou assaz buscando um novo ritmo pro pensamento na contradança, pauso a lira em contratempo com passos de tocar na noite o que me apraz E quando chega a vez das notas madrugadas - aquelas que contêm estrelas já suadas pelas distâncias percorridas céu afora – Me pego olhando a quem me olha tão tranquilo seus olhos deitam nos meus olhos sem sigilos suas notas brisam-me com beijos que demoram BRISAM-ME - Lena Ferreira -

DOS VERDES EXCESSOS

No campo extremo dos verdes excessos nascem palavras que espocam como tiros entre rubros e alvos delírios, sangue; jaz o que era paz, ensaio - mas, um ato, peço: calçada com os silêncios mais maduros peito aberto, desarmada e sem escudos penso erguer uma das solidárias tendas no esquerdo canto do campado em quase flor com bandeiras verde-oliva tremulando mastros que verguem ao sabor do tempo - mesmo que não entenda o suor do vento, mesmo que não entenda seu deslocamento,   intento plantar azuis no chão das exceções: o campo necessita de cuidados, não de canhões - DOS VERDES EXCESSOS - Lena Ferreira -

PRIMAVERANDO NO INVERNO

Venho de plantar entre as estações sementes várias de flores que nem conheço - sem aguardar pelo florir que não tem preço, levo no peito a melhor das sensações - Vou solitário, carregado às emoções visto sozinho em passo, triste assim pareço imaginado que nem saiba o endereço de onde chegar; sentido, metas, direções - mas, do plantio, não me canso: ciclo eterno verões e outonos, primaverando no inverno - Entre o cuidado e o acaso sementeiro, as flores nascem, perfumando o caminho e o detalhe de ser visto assim, sozinho passa distante do pensar plantar primeiro PRIMAVERANDO NO INVERNO - Lena Ferreira -

MUDAS

Flor que se demora respirando culpas em pétalas íntimas de orvalho e luz espremida entre silêncios e esperas anseia pelos dedos lisos do cultivador que, alheio às necessidades férteis, nega a rega e ainda transplanta mudas de camélias,  de begônias e de lírios para o terreno lasso vizinho da calma - há de se plantar uma muda que seja de sândalo, baunilha, de verbena ou trigo em torno dessa rosa úmida de estrelas para que, florescendo no tempo preciso, suavizem o vento das ervas daninhas - MUDAS - Lena Ferreira - In Florbelescos

TEU CORPO

Teu corpo respiro como vida fenda, fissura, carne e fibra detalhes ínfimos e vários sudário íntimo, necessário que me descobre enquanto cobre as partes úmidas e mínimas - sementeprecisosemente - planto-te no ventre do afeto as piro teu corpo como vida teu corpo respiro como a vida TEU CORPO - Lena Ferreira - 

DAS MANHÃS SOZINHAS

Ah, vento das manhãs sozinhas vens passageiro como quase brisa e suavizas o tom grave da saudade que, na verdade, grita-me tão perto Decerto, ouviste as queixas madrugadas quando, amparada por estrelas frias, chovia as nuvens dos dias mais largos em pingos bem magros de desfazimento Ah, vento das manhãs sozinhas tranquilo e manso, vens e me abraça leve e, mesmo que breve, faz-me companhia despedindo a agonia, a calma toma assento Decerto, estás somente de passagem outras paragens de ti necessitam e solicitam o teu sopro suave e macio que, mesmo frio, conforta, conforta Então, vai... ...e leva contigo o meu agradecimento DAS MANHÃS SOZINHAS - Lena Ferreira -