quase conhecida


as vezes que se vestia de vento,
varava as ruas várias avarandadas
levantando as velhas folhas avermelhadas
que voavam como voam os pássaros aflitos

e assim as folhas iam, desesperadas
iam assim, a contragosto, sem lar, destino
parar em não sei onde, mas sei porquê

capricho pouco, sacudia a cabeleira farta
dispersando o pensamento pequeno e louco
tão vento, e tão incauta e desarmada
espalhando a poeira de outros desditos

e as folhas, assentadas sei lá eu onde
observavam, quietinhas, o desatino
das vezes que ia vestida de vento em vento

mas, as vezes que se vestia de terna brisa,
refazia-se em promessas ensoladas
e acenava para folhas ainda aturdidas
que assim permaneciam, feito em cautela

e, por ter vestidos vários - incluindo a chuva -
era quase conhecida quando ia vestida
mas, passou em brancas nuvens quando despida
e, despida, despediu-se do ser inconstante

- Lena Ferreira - 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

pensando na morte

ciclo

ENTREGA