REVOADA DE VESTÍGIOS
Daqui da varanda, vejo uns gestos certos
pastoreando palavras com esmero
um rebanho de pelos claros e macios
que caminha tranquilo por um campo extenso
levemente umedecido por estrelas e orvalho
basta-lhes um discretíssimo
aceno
e a nuvem da expectativa se arrobusta
se outro, justa, se desfaz
em chuva
e a voz entorna limpa em cantares sacros
e os passos, firmes em louvores profanos
aos pés dessa varanda em que me ponho
há um jardim de florescência contínua
onde ramos de lírios dançam com o vento
impregnando o olfato, os poros e a visão
aspiro, expiro, inspiro-me:
aroma, perfume, essência
e toda a nota sentida sem fazer nenhum sentido
é uma canção a mais, é revoada de vestígios
que cantarolo, quase
serena, considerando os gestos
enquanto o vento prossegue soprando a desrazão
REVOADA DE VESTÍGIOS - Lena Ferreira - mai.15
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