INQUILINO
Moro em mim. E quando abro as janelas, às vezes, a paisagem
me assusta e o medo do conhecido me espanta. Às vezes, palavras graves derrubam
portas e o baque perturba ainda mais a razão em prejuízo. O juízo, já tão ralo,
desce a galopes pela escada. Às vezes,
nada, nada, nada me decora ou me ilumina. Então, fecho as cortinas e durmo um
pouco ou procuro um quarto escuso e escuro onde guardo os meus bilhetes - os
mais secretos e os mais estranhos e os mais confusos - aos quais recuso dar a
luz do esquecimento por apego mero.
Espero por um milagre vindo de fora, que não chega
enquanto... Enquanto não mudo.
Outros cômodos aguardam por faxinas que não faço... Por preguiça
ou cansaço ou descaso ou já nem sei - janelas fechadas, espero, espero -
É alto o preço de um aluguel pago por tanto tempo
estacionado na vaga do senão.
Moro em mim. Cheguei até pensar em me mudar, abrindo mão do
espaço em vão. Mas, misturado aos meus bilhetes, encontrei este curto recado: abra
as janelas, deixe a luz entrar, limpe o sótão e o porão!
(...)
Mudança na mão. A hora é agora... Afeto ao fato e à renovação
do contrato.
INQUILINO - Lena Ferreira - mai.15
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