POR LÁ

E foram calmos esses dias passados entre um verde muito vivo e um azul celeste inimaginável que me amanhecia. Vendo o sol se espreguiçando bem cedinho e, sorrindo, pedindo licença às nuvens raras para iluminar o céu todinho, todinho, tão calmo...
Calmos dias de se molhar os pés na grama orvalhada, respirando o presente, o instante. De se tomar um matinal na varanda dividindo os farelos com os bichinhos, visitantes . De estender roupas nos varais e ficar observando a dança doce patrocinada pelo vento. De preparar refeições alegres e tirar uma boa soneca após o almoço. E sonhar. Sonhar, sempre. Sonhar leve e macio.
Fácil nesses dias acordar entre a algazarra dos passarinhos e o farfalhar do vento lambendo as saias das árvores, num quase fim de tarde. E, sem alarde, acompanhar a noite trazendo estrelas, uma a uma e, tão de perto, que era certa a impressão de que estendendo um pouquinho assim a mão, poderia tocá-las. O balé dos vagalumes apresentava, a cada noite, uma nova coreografia enquanto o coro das cigarras anunciava mais um dia entre farturas ternas. Com ele, me recolhia para internas leituras.
E foram assim esses últimos dias e se não trago, na bagagem, poesia, é porque ela preferiu ficar por lá.



POR LÁ - Lena Ferreira - *

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