VENTO MOÇO
Vento moço, filho de uma brisa constante, começou sua
jornada há pouco tempo. Mas, já varre tristezas e lamentos como um adulto
robusto, ventania. Levantando o pó de incertas verdades, recolheu as folhas
bucólicas do outono e, prevendo o estio do próximo inverno, forrou o caminho,
resguardando sementes. Tangeu nuvens cinza no céu, seu rebanho. Plantou riso
farto ao chorar no plantio. Tirou pra dançar meias, lenços e lençóis estendidos
nos varais no fundo dos quintais. Seguindo a jornada, espantou amarguras,
sacodiu poeiras, cansaços, manias, secou a umidade que mofa as gavetas, mudou o
sentido de umas setas tortas e, abrindo janelas, fechou certas portas.
Bem...Depois de ventar e ventar, mais sereno, limpou suas
mãos e num afago às letras, soprou de levinho uns versos de ternura. E como uma
despedida sem aceno, virando-se, caminhou calmo e tranquilo, deu um suspiro de
missão cumprida e voltou para o colo da mãe pra descansar por brevíssimo
instante.
VENTO MOÇO - Lena Ferreira - abr.15
Comentários