RELATOS - III
No alto, onde o silêncio não come, panelas vazias vão cheias
de fome. Nos pratos, transbordam as contas de ontens alimentadas por homens
bêbados de estrelas. Farinha e fumaça dão liga à fermentação.
Aqui embaixo, não vejo nenhum indício do início das construções.
Promessas que sempre surgem em tempos de campanha. “Em breve, creche-escola.”
Mas, o agora urge...
E, enquanto meninos dormindo ainda visitam a santa
inocência, precoces vestidos de homens acendem morteiros um tanto aturdidos.
Cortam o silêncio que no alto não se aplica alvoroçando o
silêncio intocável do outro alto.
Traçantes em febre respondem. Maculam a sua trajetória. Paredes choram
as suas feridas. Sangram estilhaços de vidro.
Quando amanhece, jornais correm o asfalto contando por alto
o quê do acontecido.
“Balas foram encontradas no peito de um futuro perdido.” diz
o legista.
Da madrugada que ninguém sonha, esta é só mais uma notícia
que entra na conta da estatística...
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